6.1.14

Sherlock BBC - o Sign of Three e alguns desabafos

Ermita em modo fleumático depois de ver o segundo episódio ontem à noite. Foi engraçadinho e bem melhor do que o primeiro, onde pelo menos as personagens parecem ter voltado ao normal, depois de todos os exageros no argumento e da frustração que deixou (post anterior) - pelo menos a mim.

Enfim, as duas primeiras temporadas também tiveram exageros e momentos de mau gosto, em que os argumentistas se deixaram levar pelo entusiasmo e borraram a pintura – os mafiosos chineses a ameaçarem a menina em apuros com o dardo do circo (para quê darem-se ao trabalho de levar um ferrungalho maljeitoso para um beco escuro, quando uns sopapos na menina dariam conta do recado?); toda a parte do Golem; a facilidade com que o Sherlock e a Irene põem os agentes da CIA KO – mas pronto, a gente ignora essas escorregadelas porque o resto da história compensa bastante.

Neste segundo episódio, nitidamente um filler (nada contra os fillers, atenção), temos pouca história e o caso a resolver acaba por ser fraquito e até um tanto absurdo – alguém que me explique como é que duas pessoas levam com uma punção no bandulho e se mantêm absolutamente impassíveis, sem darem sequer um gemido. Ok, há pelo menos um antecedente conhecido: a Sissi da Áustria também foi apunhalada e não deu por isso – pensou que só tinha levado uma pancada no peito. Ao que consta, também foi o corpete apertado que a manteve viva durante mais tempo do que seria de esperar. Mas um cinto é muito mais pequeno do que um espartilho; a compressão nem se compara. Então e a dor? Um espeto a trespassar um rim não faz doer? Enfim, estamos sempre a aprender…

Mas em geral gostei do episódio. Não dei saltinhos de entusiasmo nem houve nada que me deixasse estarrecida, mas foi giro, pois. Ainda não carreguei o vídeo, por isso não posso fazer o meu próprio corte e costura das cenas, mas apanhei algumas imagens na net, como o Sherlock bêbado na discoteca, um dos momentos mais divertidos,



e as deduções que ele faz logo a seguir no apartamento do “fantasma”, que foram do melhor:






A sequência da bebedeira deixa algumas pérolas para a posteridade, como o “he’s clueing for looks” e o “the game is… something.”




De onde se conclui que o episódio estava decididamente a precisar de uns copos (ou de umas provetas graduadas) para animar.

E com esta cena, percebemos finalmente porque é que ele se apresenta como um sociopata:



Que é uma coisa que ele nunca foi. Ou seja, o Sherlock só se apresenta assim quando pretende assustar os tipos que o irritam e que lhe chamam psicopata, como o Anderson, no primeiro episódio.

Não sendo um capítulo marcante, foi uma hora e meia bastante agradável. Ao menos isso. Mas até agora, o que temos estado realmente a ver é uma série que se encostou ao sucesso. Acho que eles podem já começar a esquecer os Baftas, porque este ano não vão conseguir pôr lá o cu. Nem que o terceiro episódio seja uma obra prima. Acho eu.

O que pode ser produtivo, como chamada de atenção para a qualidade da 4ª temporada. O Supernatural e o Doctor Who também fizeram cagadas monumentais e em seguida conseguiram recuperar – ainda que a recuperação seja sempre bastante instável, mas pronto, sempre dá para se irem aguentando, enquanto a cagada não for irreversível (o caso do X-Files). Entretanto, o que lhes vai valendo é o núcleo duro do fandom, que se mantém ali firme, de pedra e cal em frente ao ecrã, por mais derrapagens que o argumento vá tendo. Mas é uma pena que o Sherlock tenha de passar pelo mesmo processo depois de ter sido a série mais brilhante dos últimos anos. Mesmo com o dardo e o Golem e tudo.

É claro que continuo frustradíssima por não ver resposta nenhuma a tudo o que ficou no ar no Reichenbach (post das teorias, antes da estreia da 3ª temporada). Como aparentemente já resolveram não falar mais no assunto e deixarem as teorias todas a pairar no éter, posso até imaginar (dourando a pílula) que isto é um argumento estilo lasanha, todo em camadas, e que depende de cada um rapar a travessa até ao fundo ou limitar-se a comer a crosta *.
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* metáfora rasca só para confirmar que toda a gente tem o direito de dar a sua argolada de vez em quando. 

Ou seja, não há respostas erradas, isto é uma narrativa aberta e cada um é livre de ficar com a sua. Muito lindo, mas não acredito.

Cá para mim, o que se passou aqui foi o que se passou no Lost. Os argumentistas embrulharam tanto o enredo, que às tantas eu já só continuava a assistir para saber como é que raio eles se iam desenvencilhar daquilo tudo. Como se viu, foi um estampanço brutal. A série deve ter ficado para a história como um dos maiores falhanços de escrita.

Só como exemplo: uma das regras básicas de um professor é nunca fazer uma pergunta aos alunos se ele próprio não tiver a certeza de qual é a resposta. No caso dos argumentistas, uma das regras básicas deveria ser não complicar a situação sem saber como é que vão sair dela. Evitariam muitos berbicachos.

Por aquilo que os argumentistas contaram numa entrevista, eles terminaram a primeira temporada sem saber como é que iam resolver a cena da piscina. A sequência de abertura da segunda série foi gravada um ano mais tarde – e a continuidade fez um óptimo trabalho, porque até as caveirinhas da gravata do Moriarty estão exactamente no mesmo sítio (SIM, eu sou menina para ver frames à lupa).
Mas a solução – o telemóvel do Moriarty desatar a cantar na hora H – embora muito engraçada, pelo anticlímax, foi nitidamente um desarrincanço de última hora. Completamente comparável com a cena do interruptor na bomba do metro, embora aqui o desarrincanço seja quase um insulto. Quanto mais não seja, aos terroristas.

Nesta altura, estou convencida que não nos explicaram como é que o Sherlock sobreviveu porque eles simplesmente também não sabem. Só isso. Mas já agora podiam ter explicado o que se passou realmente na história do Moriarty, que era a parte que eu queria saber. Uns lamirés, ao menos, c'um caraças.

Mas pronto, o que lá vai lá vai.

Entretanto, ainda quanto às minhas teorias, queria assinalar que a ideia de que o theimprobableone seria um alter-ego do Moriarty ficou logo cilindrada na altura em que saiu o mini-episódio e os posts novos no blog do John. Afinal, o mais provável para o improvável é ser o Anderson.

E quanto à questão do auricular, parece que afinal foi uma piada semi-interna (semi, porque lá haverá uns quantos de fora que a perceberam – não foi o meu caso, que nem sequer vi o filme do Guy Ritchie):



Porque afinal sofro do mesmo problema do Sherlock:



O que quer dizer que estou condenada a grandes frustrações. Grrrr.

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