28.5.08

Limpinho

Só para lhes mostrar que o gato do ermita usa o bidé, ao contrário de muito boa gente que nem sequer sabe para que serve uma coisa destas (porcalhões...)
Enfim, é claro que a Zarosky não lhe dá exactamente o uso que seria de esperar, mas tem desculpa - é um gato e não precisa de água para se lavar por baixo (nem por outro lado qualquer, aliás).
E aqui está ela a servir-se também do lavatório:



Ahhh, que cama fresquinha...

Quanto à banheira, serve para beber água à torneira, evidentemente.


E o ermita nesta altura está com trabalho até às orelhas, portanto não vai haver grande coisa no blog até dia 15.

11.5.08

Diário do Oeste - 16

Primeiro que tudo, quero mostrar as lindezas mais novinhas do quintal da tia. Oh pra elas:
A Pontinhas com os putos, cada vez mais reguilas.
Uma soneca no sofá.

A fêmea de olho verde

e o macho de olho azul.




Mas para não dizerem que eu só mostro gatos, aqui vão dois canitos para compensar:
Este aqui, a precisar de um banho e de uma boa escovadela, estava à porta da igreja dos Campelos esta manhã, à espera que o dono saísse da missa. Com uma paciência canina, o desgraçado ficou na rua a apanhar chuva e a aturar um puto chato que insistia em correr com ele (e mais um bocadinho e quem corria com o sacana do puto era eu), até o pessoal começar a sair. Nessa altura começou logo a dar mostras de grande animação antecipada, numa agitação saltarica que culminou com o aparecimento do dono, que ele então saudou alegremente com um sapateado artístico e alguns cumprimentos vocais. E o sacrista do homem nem sequer pareceu dar por ele; saiu e foi andando, com o canito aos pulos à volta dele, sem lhe dirigir uma palavra nem lhe fazer uma festa nem coisa nenhuma. O que só confirma, mais uma vez, que a maior parte das pessoas não merece o afecto do cão que tem.
E cá vai outro, o Téo, que é o canito da avó da criança que me fez estar hoje de manhã à porta da igreja, à espera que acabasse a missa do Pentecostes para assistirmos então ao baptizado.
Comecei logo por dar com esta coisa macabra lá dentro, um Cristo todo chagoso, de ar altamente desgraçado e expressão de agonia, próprio para assustar criancinhas - mas as ditas criancinhas estão tão habituadas a ver um gajo espetado nuns madeiros, que devem achar isto perfeitamente banal. Eu é que devo ter a mania de ver as coisas pelo lado mórbido, pois...A imagem deve ser bastante recente porque os pregos de cima estão no sítio certo, já viram? Estão nos pulsos em vez de aparecerem na palma das mãos (e em seguida o homem caía cá em baixo, para piorar ainda mais a situação... chiça...!). No entanto os pés continuam iguais aos das representações tradicionais, talvez porque a malta ainda ia estranhar muito ver um Jesus meio torcido, com as pernas para o lado e um prego a atravessar-lhe os calcanhares.


Mas passemos à estrela da festa, a Leonor, que andou em bolandas de colo em colo e se portou impecavelmente:

O que já não se pode dizer das lindas criancinhas que passaram o tempo às corridas pela igreja, a embrulharem-se nas saias do padre e tudo, às vezes num cagaçal medonho. À saída, quando eu comentei que aqueles paizinhos deviam ter posto uma trela nas feras, alguém me respondeu com um ar um tanto escandalizado "mas como é que se consegue fazer as crianças ficarem quietas?" "Agarrando-as, não?", respondi eu muito naturalmente. Mas a outra mandou-me um olhar de desprezo, como se o selvagem fosse eu.
As pessoas são muito esquisitas.


E aqui estão eles, todos a postos para a função:
O padre era um porreirolas, que se fartou de dizer piadas e de fazer caretas para a miudinha, embora eu começasse por duvidar se o senhor prior teria andado a abusar do vinho da missa. Mas não, pelos vistos é simplesmente um moço todo bem disposto.
"Queres ver, Leonor, está uma coisa muita linda aqui dentro..." E a Leonor baixou a cabeça para dentro da pia baptismal à procura da coisa linda e tunfas!, levou logo com um sacramento em cima: Um dos momentos mais hilariantes da festa, quando o padre chamou estes dois estarolas para conduzirem o Pai Nosso e foi a confusão total, porque além de não o saberem de cor, também não o conseguiam encontrar no livrinho. O de branco desatou a ler tão depressa que o padre interrompeu "aguenta aí, que é para ir pró céu mas também não é preciso ir de foguetão..." É claro que acabou por ter de ser ele a conduzir a coisa. Enquanto isto, o padrinho preferiu entreter-se a brincar com a vela, a arrancar-lhe bocadinhos de cera e a deitar pingos para o chão. "Olha a trabalheira que tu vais dar às velhotas amanhã, quando vierem limpar a igreja..." E ele, para "remediar", resolveu passar logo com o pé em cima da cera entornada (!!!). Coitadas das velhotas, realmente. E já repararam no cartaz lá atrás? Quando entrámos, a minha tia perguntou que raio era aquilo do fogo e do vento (e também não faço a mínima ideia). Mas aparentemente ninguém reparou no título: Domindo de Pentecostes. Heheheheheh


E depois fomos todos almoçar e pronto. Quase todas as meninas tinham levado roupinhas leves, a contar com a Primavera, e lixámo-nos à grande porque o dia esteve altamente farrusco e frio, sempre a borriçar. Mas isso é que é o normal numa Primavera: um tempo meio maluco, com sol e chuva e montes de vento, com uns dias radiosos pelo meio, como este aqui documentado:
O progenitor e a madrasta na zona da Foz, entre a Areia Branca e o Areal. Ah, que porreiro...
(e eu com protector solar de écran total e a correr logo para a sombra depois de tirar a fotografia, evidentemente)
E depois há todas estas manifestações da Primavera, em que não me chegam os olhos nem a memória do cartão da digital:
Este ano a Terra dos Loureiros está cheia de flores destas. Normalmente punham umas mais rasteiras, parecidas com campainhas, nos vasos dos postes e nas bordaduras dos canteiros. Mas este ano devem ter descoberto que esta espécie também era suficientemente resistente e resolveram variar.


E as rosas, evidentemente. Estamos em Maio e só agora nos damos conta de que há por aí pessoal que tem autênticas colecções de roseiras no quintal, porque de repente ficaram todas arremelgadinhas ao mesmo tempo. Até arranjar mais exemplares para vos mostrar, fiquem-se aqui com estes grandes cachos, caçados à porta da Segurança Social:


10.5.08

Os benefícios do ginásio...

(recebida por e-mail)

Está provado que, por cada minuto de exercício, aumenta-se o nosso tempo de vida em um minuto. Isso permite que aos 85 anos possamos ficar mais 5 meses num lar de terceira idade a pagar 200 contos por mês.

A minha avó começou a andar cinco quilómetros por dia quando tinha 60 anos. Agora tem 97 e não fazemos a menor ideia onde é que ela está.

A minha única razão para fazer exercício foi para voltar a ouvir uma respiração ofegante.

Inscrevi-me num ginásio no ano passado e gastei cerca de 40 contos. Não perdi nem um quilo. Parece que é preciso ir lá.

Eu tenho que me exercitar logo de manhã, antes que o meu cérebro perceba o que eu estou a fazer.

Gosto de longos passeios, especialmente quando são dados por pessoas que me chateiam.


Tenho umas ancas flácidas, mas felizmente o meu estômago esconde-as.

A vantagem de nos exercitarmos diariamente é que se morre mais saudável.

Se vai percorrer um país a pé, escolha um país pequeno.

E por último:
Eu não faço exercício porque o gelo salta do meu copo.

1.5.08

Memórias

Eu tinha oito anos, quase nove. Tal como a maioria dos putos da minha idade, estava praticamente às escuras, sem fazer ideia do que se passava à minha volta. Havia a guerra, claro, mas como já nasci com ela e aparentemente ninguém se opunha, aquilo parecia ser perfeitamente natural. Mas ao mesmo tempo havia muita coisa bichanada, muitos comentários que eu não entendia, metáforas de que me apercebia mas que não sabia interpretar.
Mas veio a revolução e de repente toda a gente começou a falar no assunto às claras. Os sacristas tinham conseguido esconder o segredo o tempo todo. E o segredo era a realidade.
Lembro-me do 25 de Abril, evidentemente. E lembro-me de que nos dias que se seguiram a malta ainda andava um tanto acanhada, receosa de que houvesse uma reviravolta qualquer, um contra-ataque, e que voltasse tudo à mesma. Mas seis dias depois era Primeiro de Maio, as dúvidas já se tinham desvanecido e os acanhamentos foram todos às urtigas. E o pessoal veio todo para a rua em grande.

eu estava aqui

Não havia cravos vermelhos. Estavam esgotados. Mas a progenitora tinha um ramo de cravos brancos na jarra e serviram na mesma, ora pois. Devidamente encravados a branco, o meu pai e eu fomos até à Alameda ver as vistas. E eram de facto espantosas.
É difícil descrever o tamanho daquilo, aquela energia toda, o arrebatamento geral, a cara das pessoas bêbadas de entusiasmo. Uma bebedeira contagiante.
Fomos andando com a turba sem saber exactamente para onde (eu pelo menos). Parece que ia haver uns discursos algures, mas isso era o que menos interessava. O que era preciso era estar ali, era participar na bebedeira. Havia gajos que me davam palmadas nas costas e me chocalhavam o ombro e que me diziam que aquilo tinha sido feito por mim, pelo meu futuro, pelo futuro dos putos todos, e diziam isto com o ar alucinado de quem se sente a flutuar. E nós flutuávamos com eles. Berravam-se palavras de ordem, agitavam-se punhos no ar, cantava-se o hino pela enésima vez. De vez em quando passava um helicóptero por cima de nós e a malta desatava toda a gritar-lhe “abaixo a reacção” com uma senha tal que mais parecia que queriam deitar o helicóptero ao chão; acho que ainda não estavam lá muito convencidos de que “os outros” não tentassem estragar a festa. Não sei quanto tempo ali estivemos. Sei que viemos roucos para casa, com aquele ar esparvoado de quem acabou de passar por uma experiência transcendental, absoluta e esmagadora. A sensação da união total , da comunhão absoluta. Não havia partidos nem divisões nem rancores. Era uma massa única em estado de graça. Irrepetível.

34 anos depois, sem um sacrista qualquer a jeito pra me tirar o retrato; o look mais revolucionário que se conseguiu arranjar - weeee!!!!!