26.7.12

Diário do Oeste - 40

Ermita todo porreiro, de cu para o ar à caça de dinossauros, berbigões jurássicos e afins. Se não fosse o sol na moleirinha, 'tava-se na maior.
O ermita na praia de Vale Frades de T-shirt, pareo e panamá, depois de ter ficado meio esturricado na véspera à conta do biquini, mesmo com várias doses de protector em cima. Factor 50+, evidentemente. 

E pois, as últimas manhãs têm sido passadas na praia à cata de calhaus, uma das poucas coisas que ainda me fazem levantar cedo. A demanda começou aqui há dias na praia de Porto Dinheiro, onde encontrei três caranguejos um tanto combalidos (calculo eu, porque não esperneavam tanto como é costume).

E sei que não esperneavam muito porque os levei para mais adiante, para o meio das rochas, para os deixar mais ao abrigo dos apanhadores de caranguejos que andam sempre por ali a explorar as barrocas.
Em compensação, este estava dentro de água, certamente mais fresquinho, e dava às patinhas a toda a mexa; tal foi o susto, coitadinho:
Deixei-o na barroca dos outros três e espero que se entendam todos bem.

A maré estava mais para o vazio e deixou a descoberto uma data de belas alforrecas, vermelhinhas que nem tomates, como esta beleza aqui em baixo, a posar ao lado de um burrié:

A água pouco funda dá para fotografar razoavelmente o que se passa lá em baixo sem ter de ir ao banho. Esta coisa às pintinhas é uma alga no fundo de areia, embora mal se perceba que está dentro de água,

 mas esta aqui já apanhou os reflexos na superfície:

E a seguir começaram a aparecer os calhaus. Montes deles. Cada um mais lindo que o outro. Aglomerados de conchas fossilizadas por ali à fartazana. Como não os podia trazer todos para casa, fui-lhes tirando o retrato. Só ponho aqui três, senão nunca mais saímos daqui:
 Uns grafitis esquisitos desenhados na rocha.

Quatro calhaus e um bocado de concha:

Uma data de bocadinhos apanhados pela mesma lama:

Enfim, dava para fazer um jardim paisagista só à conta dos calhaus de Porto Dinheiro.
Entretanto, quando nos vínhamos embora resolvi trazer um saco de areia para as minhas meninas se divertirem a fazer buracos. Ideia que a Pixie percebeu logo: 
A brincadeira durou até elas decidirem que aquilo também servia para fazer xixi lá dentro. E é assim que agora tenho mais este alguidar no meio da cozinha a servir de casa de banho suplementar.

No dia seguinte, a manhã estava altamente farrusca e o ventinho era do caraças. Desta vez fomos para a Areia Branca. O pássaro esquisito à direita é um papagaio:

O pessoal andava todo de camisola ou enrolado na toalha. Acho que foi a primeira vez que fui para a praia de gabardine, pelo menos em pleno Julho:
Estou de barrete enfiado porque me tiraram o retrato contra o vento, que me estava sempre a levantar o capuz. Cheguei a casa com um penteado à Drangon Ball, todo espetado e salgadinho.

Mas foi então que começámos a encontrar conchinhas, bué da conchinhas, belos berbigões jurássicos com rombos na casca, desgastados de tanto andar ao trambolhão, mas ainda perfeitamente reconhecíveis:
O espólio do dia, uma bela apanha de berbigão no lado norte da Areia Branca.

E aqui, o que eu comecei por pensar que era um burrié a esteróides, é afinal uma ameijoazinha gorda, embora a photo não lhe faça justiça; terão de acreditar em mim:
A depressão com o risco preto é onde as metades se encaixam. Com efeito, o fóssil está tão gasto que já não é facilmente reconhecível, mas depois vira-se ao contrário e não há dúvida nenhuma, porque se topa bem a articulação das duas conchinhas:

Já à vinda, deparei-me com uns lindos penachos vermelhos e rosa que plantaram ao pé das escadas:


Ontem fomos novamente para a praia do norte, mas o tempo entretanto virou completamente e quase me valeu um escaldão.
 Já não tem nada a ver com o tom da outra photo, né?

Encontrámos mais uns berbigões e uns bocadinhos de osso, nada de particularmente espectacular, mas, se se confirmar que isto é o que eu penso, posso ter apanhado o bocadinho de osso mais minorca do  currículo, uma coisinha do tamanho e do feitio de uma grainha:
Pelo menos à lupa continua a parecer osso, mas não posso garantir, é um facto. Note to self: arranjar um microscópio.

E hoje foi a vez de Vale Frades, onde encontrámos uma série de ossitos e nos fartámos de penar para subir a ladeira com eles, porque à chegada me recusei a descer a rampa com o carro - o acesso à praia tem uma inclinação de susto e ainda aqui há dias os pneus me resvalaram a meio de uma subida com areia, onde o declive era muito menor. Ná; a malta vai a pé e pronto. Claro que não contei com os brutos calhaus que íamos encontrar e fazer questão de trazer para cima.
O meu pai acartou com um ossão enorme e rolado que a minha madrasta encontrou, e eu com dois bocados de pedra com uns ossitos embutidos, que pesavam com'ó caraças. Estes são dois dos levezinhos da colheita de hoje:

 E nesta altura, para não me repetir, acho que vou mandar o pessoal a este post cá atrás para perceber como é que eu sei que isto são bocados de osso de bicho grande. É a parte do texto que se segue à photo da minha mão com um anel.

E para rematar o tema dos calhaus, uma florinha peluda e esgadelhada da barreira de Vale Frades:

E agora que já ficaram a saber em que posição é que eu tenho passado as manhãs, volto atrás no tempo e à parte em que eu tinha um puto cá em casa (Diário 39). Depois de devolver a criança à dona, fiquei pelo menos com uma ideia mais exacta sobre o meu estilo de vida. Até agora nunca me tinha apercebido, por exemplo, de que praticamente só vejo séries impróprias para menores, ou que as páginas de internet que vou espreitar quase todos os dias têm imagens XXX, já para não falar nos meus horários, que realmente só um gato é que atura. Ou dois, neste caso. 
Claro que, por pouco tempo, dá-se um jeitinho: acorda-se mais cedo, que remédio, porque a criatura vai para a cama às dez e abre o olho às sete, faz-se comida a sério, evitam-se conversas mais explícitas ao telefone e fecha-se a porta da casa de banho, mas o facto é que a minha vida é uma vida de adulto e é difícil encaixar-lhe um anexo.

No fim de semana em que a comadre veio buscar o Gabriel, aproveitámos para dar uma voltinha por Moledo, onde andaram a pôr uma série de estátuas aqui há uns tempos, alusivas ao Pedro e à Inês. Os tais de que a malta fala como se fosse uma história romântica, mas que eu vejo com tons bem mais sombrios, porque o tal do Dom Pedro ficou para a história como um sacana do piorio, daqueles que quando lhe pica a mosca vai tudo à frente. Pedro o Cru, lembram-se? E não era por estar mal passado. Portanto pergunto eu: aquilo eram os tais grandes amores que nos estão sempre a impingir, ou seria simplesmente porque a desgraçada da Dona Inês não tinha outra hipótese a não ser aturar o gajo? Por um lado, tinha os próprios parentes a instigar a coisa, a quererem subir na horizontal by proxy, e por outro ela não devia ser suficientemente suicida para dizer não a um psicopata. Claro que a senhora podia ser uma oportunista a tentar subir na vida, mas de certeza teve de engolir muito sapinho para conseguir aturar um bicho daqueles.

Voltando a Moledo, onde pelos vistos o tal parzinho romântico andou a dar umas reais quecas, temos então aqui a abrir a célebre estátua da banheira, desta vez com a comadre lá dentro,

e aqui com o ermita a fazer a sua interpretação da Inês a esticar o pernil, que é como se chama a estátua; estão a ver ali em baixo, na placa do pedestal?
Pois.

O tempo estava bastante farrusco e o contraste foi um bocado à vida, mas isto aqui é o topo da igreja de Moledo contra um céu dramático - brrr!

Mas ainda mais dramático foi o mamarracho que plantaram à frente da igreja. Este aqui:
A autêntica arte com M grande. E pelos vistos houve alguém que aprovou isto. Mas se a ideia era chocalhar o pessoal, parabéns, conseguiram. Eu cá chocalhei tanto que até me engasguei, mas provavelmente esta obra será demasiado arrojada para a minha sensibilidade saloia.

O efeito é este. Um pilar de tabuinhas com pranchas de surf por ali acima. 

Inspirada, a comadre resolveu então agarrar-se ao pau. Mas a escultura era muito larga para abarcar, por isso agarrou-se antes a esta coluna mais fininha,

 logo imitada pelo rebento, que não lhe quis ficar atrás:

Do outro lado da rua, temos este cruzeiro mesmo em frente à igreja, um instrumento de tortura convertido em objecto de culto. Ah, a civilização ocidental... 
Ok, suponho que as outras também devem ter uns pormenores assim giros.

Adiante. Umas florinhas e outras coisas bonitas que me apareceram à frente ainda lá em Moledo:
 rosas minúsculas

 petúnias

 idem idem

 aspas aspas

 uma buganvílea roxa

e uma fonte sem torneira na parede da igreja.

Já à saída da povoação, fizemos mais uma paragem e a comadre resolveu assediar descaradamente o homem de lata,

enquanto eu me fiquei pelas florinhas da vizinhança, como de costume (os nossos interesses são nitidamente diferentes, é um facto);

 sardinheira esfarrapada


 rosas desmanchadas


Mais umas voltinhas por ali a ver o monumento aos soldados do ultramar - deste eu gosto, porque é um granda calhau, oh aqui:

E acabámos todos no moinho a tirar fotografias. 
 O Gabriel a bater-se à photo.

Uma daquelas perspectivas esquisitas em que eu queria ter enquadrado a coisa dois cagagésimos mais para a esquerda, mas este sistema de nos guiarmos só pelo ecrã é uma bela porcaria.

 As cabaças do moinho.

 A comadre a estragar o moinho.

E o moinho em contra-luz.

No fim de semana a seguir tivemos o baptizado da Matilde, provavelmente a cerimónia mais caótica a que me lembro de ter assistido, em que o padre às tantas até interrompeu a cassete para propor aos convidados que fossem conversar lá para fora.
 
Mas a malta estava muito mais interessada em ver quem ia ganhar a corrida de gatas pela passadeira fora, do altar até à porta. Enfim, foi divertido.

O baptizado foi na igreja de São Lourenço dos Francos, que já apareceu aqui no blog quando foi a vez do irmão da criança, mas acho que não pus nenhuma photo da pia baptismal. E agora também não ponho, porque do sítio onde eu estava só consegui apanhar isto:


Padre, pais, padrinhos e fotógrafo a fazerem não sei o quê no altar. Talvez a registarem o evento, ou coisa que o valha - percebo à brava disto, eu.

O casal e a criança com os novos compadres:

A Matilde com uma flor de cicuta.
E a seguir achei por bem dizer o que era aquilo e a florinha foi parar ao lixo que foi um foguete. Calculo que tocar numa flor não lhe fosse fazer mal nenhum, mas a seguir a criança podia aparecer com alguma borbulhagem esquisita e depois eu ficava cheia de problemas de consciência.

A comemoração era dupla: o primeiro aniversário da Matilde e o... bâtismo. Esta é daquelas palavras em que não engulo a falta da consoante muda nem com um copo de três. Por óbvios motivos pessoais.

E aqui é que me estragaram os planos. Sim, porque eu até me portei bem, não me enfrasquei nem nada, não comi que nem uma brutinha, até deixei alguns croquetes para os outros e tudo. Mas estão a ver aquele belo pão-de-ló ali à direita, logo a seguir aos morangos? Aqui ainda estava inteirinho. A seguir apareci eu.

E por último, a notícia de que aqui o ermitério quase foi pelos ares mas safou-se de boa à conta do nariz da vizinha de baixo, que se apercebeu do cheiro a gás. 
Chegados os bombeiros, foi uma festa aí na rua, com mirones e tudo. Infelizmente, não consegui nenhuma photo do bombeiro a entrar pela varanda do andar de baixo pela escada que estica. 

Pelos vistos o vizinho estava ferrado a dormir, sem se aperceber de que tinha a casa cheia de gás, e nem sequer ouviu o pessoal a bater-lhe à porta. Calculo que deve ter apanhado o maior cagaço da vida dele quando acordou com um bombeiro a entrar-lhe pelo quarto adentro, mas pelo menos acordou, o que já não é nada mau, dadas as perspectivas de mais umas horas a respirar aquela porcaria. 
E assim, ainda não foi desta que o meu prédio fez badabum.