12.4.12

Diário do Oeste - 37

Breve interrupção na pasmaceira aqui há dias, quando cheguei à janela e vi uns CSIs com os geninhos cá da terra e fitinhas amarelas nas árvores e tudo. "Olé..." Arrebitei logo as antenas, pois claro - finalmente estava a passar-se qualquer coisa, yupi yupi, e eu já a imaginar algum grande e horrível crime, com sangue e miolos a escorrer pelas paredes abaixo, ou qualquer coisa assim altamente sumarenta. Fui para a varanda de binóculos, ao melhor estilo mórbido-mirone, a ver se via sair os sacos com os cadáveres. Só bastante mais tarde é que fiquei a saber que afinal tinha sido um ataque à Rádio Dinossauro, que fica mesmo aqui ao lado; alguém que não gostou das notícias...?
Fui buscar a maquineta e tentei tirar fotografias da varanda, que sairam um tanto ranhosas mas sempre dá para ilustrar o final da coisa, quando já estavam a tirar as fitinhas amarelas do "daqui não passas":

E estava eu a tirar photos aos meninos das fatiotas brancas, quando o sol se escondeu e o flash disparou automaticamente. Vi um deles a levantar a cabeça para a minha varanda ("ups, já me toparam") e vai daí ele saca da maquineta e pimba, tirou-me a fotografia também. E a seguir ainda atravessou a rua para arranjar um ângulo melhor, nitidamente de olho em mim:
E eu toda mal pronta, sem baton nem nada, raisparta a sorte. Sim, porque se passei a suspeita, ao menos que ficasse com um ar minimamente decente, né? E a avaliar pelo tamanho do canhão da máquina dele, até os pelinhos do meu nariz devem ter ficado no retrato.

E agora, completamente a martelo, meto aqui a photo da vista da outra varanda, num fim de tarde com uma luz espectacular. Oh tão lindo:

Ahhhh...
Ok, adiante.
No domingo passado, o meu amigo Leo estava lá nos States a tentar seguir uma receita de bacalhau com natas que rematava a dizer que ficava muito bem se fosse acompanhado com esparregado.  "Esparregado...?" Na dúvida, mandou-me um e-mail cá para este lado do Atlântico a perguntar que raio era aquilo. Arranjei uma receita para mandar ao Leo, mas aproveitei para lhe explicar que o esparregado é uma mistela infecta, a coisa mais parecida com vomitado que já se inventou - à conta do vinagre, até sabe a suco gástrico. E a textura de gosma peganhenta também não ajuda nada.
Porque eu sempre tive um problema com texturas, é um facto. Papas, nem vê-las. Segundo as crónicas da família, a aversão começou logo a manifestar-se aos poucos meses de vida, quando me tentavam enfiar papas de farinha pelo bico abaixo e levavam invariavelmente com elas nas fuças. Uns anitos mais tarde, lembro-me de a minha mãe andar a correr atrás de mim pela casa fora com um prato de açorda - "ao menos prova, não podes dizer que não gostas se nunca provares!" - até que me conseguiu agarrar à porta da sala e me enfiou uma colherada pela boca adentro. E eu, automaticamente, mal senti aquela bodega a tocar-me na língua, vomitei o jantar para cima dela. Remédio santo. Nunca mais insistiu.
O esparregado está na mesma categoria das papas abjectas, embora eu tenha tentado provar a coisa por várias vezes, acho que pelo simples facto de ser verde. Porque há duas coisas que o meu cérebro reconhece sempre como comida (embora de vez em quando não seja): as coisas verdes e o cheiro a cereais. Já me lixei várias vezes à conta disto, porque nem tudo o que é verde é automaticamente comestível. Como é o caso do esparregado. Mas o Leo não pareceu nada impressionado e está a planear experimentar a receita que eu mandei. Enfim, já é grandinho, está por conta dele... Mas eu avisei.

E agora, para compensar o facto de estar a falar em coisas nojentas, aqui vai a photo do meu almoço:

Não é lindo? Achei que o prato estava tão colorido que merecia um retrato, para mostrar ao pessoal o que é uma óptima paparoca vegetariana. Isto que estão a ver são cenouras às rodelas, azeitonas, couve roxa e rabanetes de um lado e cogumelos shiitake com ovos mexidos do outro - separados, para os quentes não tocarem nos frios. Os cogumelos foram salteados com cebola. Tudo combina lindamente e as texturas são crocantes. Acompanhado com um belo tintol, é de lamber o prato (exactamente: os vegetarianos bebem tintol).
Os ovos que eu uso são de galinhas felizes. A maior parte dos ovos que encontramos no supermercado são de galinhas altamente degraçadas, criadas em gaiolas, que nunca podem esticar as pernas nem esgravatar o chão à procura de minhocas, porque há por aí uma data de gananciosos que estariam muita bem sem cabeça. Não sei se estas que botam os ovos que eu compro também comem ração (a embalagem é um tanto vaga), mas pelo menos diz lá que são ovos de galinhas criadas ao ar livre.
E de vez em quando aparece uma beleza destas, ainda com niquinhos de bosta e penas agarradas e tudo.

Já que se fala de comida, aproveito para mostrar esta coisa linda que o meu progenitor me trouxe de uma excursão: um pão de picha. Segundo ele, era o que dizia no cartaz da padaria.
Infelizmente, não era comestível. A massa lá por dentro estava completamente encruada. Só servia mesmo para tirar o retrato.

As minhas gatas não têm chão para esgravatar aqui no cimo do ermitério, mas tento compensar um bocadinho com um micro quintal, onde tenho um vaso cheio de trevos, ervinhas e dentes de leão auto semeados para elas se espojarem em cima. Embora a Pixie também goste de se rebolar no mosaico:


A Zoya a observar os dentes de leão. Que não se parecem nada com dentes nem têm nada a ver com leões, mas pronto.

E a Pixie em pose de tigre à caça:

A Pixie foi o meu gato aspirina. Adoptei-a cinco dias depois de a Zarosky ter morrido de repente, em Fevereiro do ano passado, porque ela precisava de uma casa e eu precisava de deixar de bater mal. Era uma das frequentadoras do quintal da minha tia e pelas nossas contas deveria ter uns cinco meses.
Quando cheguei a casa, sentei-me no sofá com ela ao colo e ficámos as duas a ver um episódio do Merlin, onde entrava uma pixie. Perguntei-lhe se gostava do nome e ela continuou a fazer ronrom, portanto assumi que estaria de acordo.
Com efeito, acho que nunca foi tão bem aplicado (as pixies são umas fadinhas traquinas, que gostam de pregar partidas aos humanos). A Pixie é furiosamente meiga, mas completamente destravada. Daquelas que, se ainda não fez, está para fazer. Os tapetes passaram a estar todos amarfanhados por baixo dos móveis, por mais que eu os endireite. As cortinas da sala estão cheias de arrepanhados artísticos, porque há pombos aos saltos na varanda lá por trás. Normalmente o meu despertador é o barulho das unhas dela a tentar abrir as gavetas do meu quarto - nunca conseguiu, mas todas as manhãs volta a tentar. Franjinhas, cordões, coisas que abanam - esqueçam. Eu a querer botar opinião num grupo do Skype e ela a querer comer-me o microfone. É um bichinho do caraças.
Topem-me só estes olhinhos de reguila:

Logo a seguir, em Abril, morreu uma amiga minha que morava em Coimbra - aparentemente, morreu de divórcio; um ataque cardíaco horas depois de ter assinado os papéis. Eu sabia que ela tinha um gato, mas nunca o tinha visto mais gordo. E quando soube que queriam deixar o bicho no canil, cheguei-me à frente e disse que então ficava eu com ele. Foi assim que me saiu na rifa uma angorá toda branquinha (e o que uma criatura que se veste de preto estava mesmo a pedir era um gato branco e cabeludo, ora pois), a Princesa... que não dava pelo nome, só por bchh bchh bchh e mais nada. Por isso resolvi chamar-lhe Zoya - curto, sonoro - e ela continua a dar muito bem por bchh bchh bchh.

Mas não há dúvida de que ela tem um ar bastante aristocrático. A princesa Zoya.
É um bichano calminho e delicado, que pontua quase tudo o que faz com um "rum?" e que tem alguns hábitos curiosos, como o de tentar tapar a comida quando já não quer mais (normalmente vira o canto do tapete para cima do prato) ou de lavar meticulosamente as orelhas da Pixie quando ela se aproxima, embora a Pixie acabe sempre por achar "'bora mas é andar à porrada!" e a lavagem descambe para uma série de corridas doidas pela casa fora.
Adoptou-me rapidamente, sobretudo quando percebeu que eu tinha uma escova. E a casa tem a especial atracção da varanda com pombos aos saltos. Ao princípio, volta e meia era cada marrada no vidro que até devia ver estrelas.

Apesar das desconfianças iniciais, as duas gatas acabaram por se dar razoavelmente bem, que é como quem diz, enquanto a Pixie não acha que "'bora mas é andar à porrada!", dão-se lindamente.


Olha que fixe, um sítio quentinho para me instalar.

Arrumar as toalhas? Qual... Assalto ao castelo!

E agora, completamente diferente. Quando saiu aquela cantiga do Gotye que anda aí por todo o lado, tive aquela sensação do "olha que giro, ainda há quem componha música..." Por isso, aqui há dias vi uma notícia no E!News a mostrar que os do Glee tinham feito uma adaptação com dois marmanjos a cantar e é claro que eu pensei logo "olha que giro, a tal música agora em versão gay" e tratei de ir ver à net o clip completo. Afinal, e para grande desapontamento, segundo a explicação que vem no youtube eles arranjaram uma história com dois irmãos desavindos, em vez de dois amantes (e desculpem lá mas essa não cola, que a letra não é suficientemente fraternal). Embora prefira de longe o original, aqui vai a tal versão, especialmente dedicada às mentes perversas como a minha.


Já agora; de vez em quando, andando a zapingar pelos canais, lá vou parar ao raças do Glee e fico a olhar para aquilo, a pensar "ena, estes gajos até cantam bem...", mas passado um bocadinho começo a sentir ganas de dar porrada em alguém. Há qualquer coisa cá dentro que entra logo em overload. Deve ser a minha fraca tolerância aos arco-íris e aos unicórnios.

Embora às vezes também me derreta com cenas fofas, como o gato amarelo do vizinho da esquina e o Salvador em plena interacção no quintal da tia:
"Ora dá cá mais cinco!"




E agora uma carrada de florinhas, para não perder a prática.
Começo pelos tufinhos de sementes e pelas flores do dente de leão do meu micro-quintal:





Sigo para os abelhões comilões a empanturrarem-se nas flores do arbusto do quintal da tia.
De cada vez que ando atrás destes lambões de máquina em punho, dou por mim a imaginar que consigo ouvir o som que eles fariam a chuchar o pólen, que nem uns brutinhos a enfiar as fuças no prato.
Chlep, chlep, chlep, chlep... nham!
...hic!

E agora o Cocas, um visitante habitual da planta folharuda do quintal da tia:

E eu ainda não o agarrei nem nada! A sério! (ok, para quem nunca veio ao meu blog e não entendeu: se derem uma vista de olhos aos posts passados, rapidamente percebem que eu não resisto a deitar a mão a tudo o que mexe). Neste caso, é porque o sapinho já há uns meses que aparece quase todos os dias nas folhas daquela planta e eu não quero que ele se assuste e mude de casa. Se tivesse sido eu a vê-lo pela primeira vez, quase de certeza teria feito questão de lhe tirar o retrato na minha mão (antes de o devolver à folha, claro), mas ele podia mudar de poiso e nunca mais voltar. Assim, como me fartei de ouvir falar do Cocas antes de lhe conseguir pôr a vista em cima, já sabia que não lhe devia tocar, para não perturbar o animal. Mas nem imaginam as fungas...

Outro a que eu também não deitei a mão - porque provavelmente ele enfiava-se para dentro da carapaça e porque eu ia ficar com a mão toda babada no meio da rua, sem água a jeito para depois me lavar.
Uma lindeza às riscas.

E a propósito de coisas pequeninas vistas de perto:

Um cogumelo no meio das nabiças, ou lá que raio é isto.


O fruto da planta farfalhuda onde mora o sapinho.
Um malmequer c'a mosca.


E agora com um pé no ar:
O ermita nas macacadas do costume. O muro era um espectáculo.

Há tanto tempo que não postava nada, que ainda tinha aqui mais uma série de tralhas para pôr, mas o blogger está a ficar engasgado e remato aqui antes que isto dê o pandeco.

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