29.9.09

Diário do Oeste - 32

Ermita completamente na balda, sem fazer actualizações no Diário desde o passado mês de Abril. Abril, pois, acabei de confirmar - isto já não é uma balda, é um perfeitamente nas tintas. O que vale é que os meus dois leitores esporádicos nem devem ter dado por nada...


Ora tanto quanto me lembro, a seguir a Abril veio o mês de Maio, porque o calendário não é lá muito dado a originalidades. Mas quanto a Maio, como não tenho nada para contar posso pôr aqui duas photos bonitinhas; uma cheia de espigas


e outra de um campo todo amarelo:
E agora, depois do momento bucólico, prosseguimos para Junho.
Em Junho tivemos os anos da tia,
esta criatura de presença assídua aqui no meu blog, desta vez com um bolo a deitar estrelinhas e tudo,
e o corte de cabelo do meu irmão, que passou deste ninho de mafagafos onde já nem entrava o pente
para isto:
(um sorrisinho amarelo para a abelhuda da mana, sempre com o raças da maquineta em riste)
Foi uma pena, para não dizer um susto - conseguiram pôr o puto quase normal (brrrr...!)
Claro que estas soluções radicais não seriam necessárias se o animal soubesse manter a pelagem em condições.


No final de Junho tivemos o baptizado do Salvador. Foi nesta igreja aqui, São Lourenço dos Francos, que fica entre a Terra dos Loureiros e os Casais onde mora a tia do ermita mais os papás da criança.
Lá dentro tem um altar todo ornamentado, como podem apreciar,
e de um lado tem um santinho com uma vassoura na mão
que não sei quem é, mas podemos depreender que seja o patrono dos varredores, e do outro tem o São Lourenço a segurar a sua grelha:O São Lourenço era o tal que estava a ser grelhado e disse aos carrascos que estava na altura de o virarem porque daquele lado já estava bem passado. É das tais histórias em que um gajo não sabe se há-de rir ou de ficar com os cabelos em pé.
Mas para abaixar um bocadinho os cabelos, uma noite destas fui aterrar num documentário (na rtp2 ou no canal de história, não me lembro) onde diziam que os monges medievais é que escreveram estas lendas medonhas, e que grande parte dos pormenores foram inventados. As histórias dos mártires serviam para exemplificar o que era um cristão muy cojonudo, como convinha - "o gajo foi frito em azeite e feito em picadinho, mas continuou a cantar aleluias até lhe cortarem a língua, tal era a devoção a deus e ao Jota Cristo e aos santinhos todos". É um tanto como as histórias para adormecer criancinhas, em que no fim há sempre uma moral qualquer. Palavra que nunca me tinha apercebido de que havia ali o dedinho anafado dos fradecos a carregar nas tintas, mas o facto é que muito me alivia saber que afinal os romanos, apesar de terem atirado uma data deles aos leões, não terão sido assim tão sádicos como os pintaram (e o facto é que pelo menos alimentavam bem os bichinhos).
Mas voltando ao baptizado falta apresentar a estrela da festa, o Salvador (a quem o padre às tantas chamou Tiago, mas a malta fingiu que nem tinha percebido), aqui com os papás no restaurante onde nos deram de almoço:O bolo do baptizado, uma cama azul com um bebé em cima:
Apesar desta cor de matéria radioactiva, garanto que era comestível e que era até muito bom. Aliás, o único senão do dia foi esse: o facto da comezaina estar óptima. O problema das meninas como eu, que passam a vida a fazer dieta, com medo de passarem de falsas magras a verdadeiras gordas, é que apanham um dia de festa e pensam "ora que se lixe, 'bora mas é encher a mula, que não é só por um dia que o gato vai às filhoses". E pimba. Vá de começar pelos salgadinhos, continuar com os pratos quentes e rematar com um bocadinho de bolo deste e daquele e mais do outro que também tem bom aspecto, mais o café e uma mousse p'ra tirar o gosto. ...Meninos, por aquilo que me lembro, eu nunca tinha comido tanto na minha vida. Garanto. Foi enfardar até lhe chegar com o dedo. Saí daquele baptizado às seis da tarde, tão empanturrada que só voltei a conseguir comer à hora do lanche do outro dia (um iogurte magro a saber a culpa).
Uns dias depois acordei às seis e tal da manhã com o barulho de coisas a cair e do meu gato aos saltos. Fui ver que regabofe era aquele e encontrei um pardal no meu escritório, que andava a fugir da Zarosky, enquanto ela muito naturalmente tentava chegar ao cimo da estante e ao varão do cortinado.
Fechei a porta (com o gato do lado de fora) e ao fim de um bocado lá consegui agarrá-lo. Larguei-o pela janela, para o passarinho ir à vida dele, enquanto a Zarosky olhava para mim com aquele ar desdenhoso de quem acha que eu sou um bicho muita parvo.
Nos fins de Julho, mais exactamente na lua nova, resolvi livrar-me do resto da tinta que ainda tinha no cabelo e dei a maior carecada a que alguma vez me atrevi, para conseguir ficar só com os poucos centímetros já limpos. Mas palavra que gostei do resultado.
Isto aqui sou eu ao espelho, numa auto-photo no dia a seguir à bela tosquia: E esta aqui foi tirada em cima da cama - com uma pontaria assinalável, consegui apanhar a Zarosky e a minha cabeça sem cortar nenhuma de nós, e nem sequer se percebe que eu estou com o braço no ar a segurar a câmara.
Acho que o meu pai foi o único que não se assustou - ou pelo menos conseguiu disfarçar. A minha madrasta perguntou que raio é que me tinha dado, o meu irmão só se riu, a minha comadre arremelgou os olhinhos e tentou dar a volta à coisa rapidamente ("ah, eu gostava de ter a tua coragem para fazer isso...") e a minha tia achou que eu agora parecia uma fufa - e ainda por cima uma fufa velha, por causa dos brancos todos.
Bof. Muito pelo contrário, eu sempre achei que o cabelo curto me dá um ar mais feminino e mais frágil, talvez porque o pescoço fica em destaque. E o branco dá um aspecto suave às feições, portanto óptimo. Ah sim, eu detesto pintar a gadelha, mas de vez em quando acabo por ceder às pressões da malta que diz que envelhece muito e não sei quê, ou talvez porque também gosto de variar, e pum, lá vai tinta. E lixo-me sempre, porque depois é uma chatice para me conseguir livrar daquilo. Mas agora tão depressa não me apanham noutra. White is beautiful. Olaré.


Também já nos finais de Julho, consegui finalmente comprar o sofá e a mesa, que era o que me estava a faltar para terminar a sala, ao fim de dois anos a viver nesta casa.

Pelo reflexo no espelho dá para ver a estante contra a parede do fundo, pintada de cor de laranja:
Aqui ainda não tinha os meus lindos elefantes por cima do espelho (ver 1ª photo):
E pronto, ficaram a conhecer a sala do ermita. Agora falta arranjar o meu quarto, pintar o corredor e comprar uma mesa para a cozinha. Vai aos poucos, p'ra não custar tanto.
Em Agosto apareceu a comadre com o afilhado para passarem duas semanitas de férias na praia. É claro que os vampiros não vão à praia, mas por vezes não resistem a dar umas braçadas na piscina e lá fui eu. Não ponho a photo que o meu pai nos tirou porque não quero aparecer aqui em cuecas, ainda por cima gorda que nem uma texuga, por isso ponho a minha comadre e o meu afilhado numa photo bastante divertida, porque parece que estão a cantar à beira da piscina:
Estando eu enterrada em trabalho até às orelhas e a comadre cheia de fungas de se ir torrar ao sol, poucas oportunidades houve para fazermos alguma coisa em conjunto, a não ser ir lá abaixo tomar café. E aqui temos o ermita, o pai do ermita e a comadre do ermita no café lá de baixo.
Uma bela gradação de cores: cru, tostadinho e esturricado.


Apesar das pastilhas, que pelos vistos já não foram enfiadas a tempo no gorgomilo da gata, a Riscadinha teve mais uma ninhada de cinco no dia 24 de Agosto. Três lindezas tigradas e duas quase brancas:
E nesta altura já estão todos espertinhos e quase independentes, com toda a genica das suas cinco semanas:
O Saca-Rolhas e o Ponto de Interrogação, assim chamados por terem saído com o rabo torto:
Um dos branquinhos com a fêmea tigrada, a mais minorca do grupo. Umas coisas fofas, todas com o nariz escuro, que vamos começar a tentar distribuir na semana que vem.


No princípio deste mês, a Chica apareceu no quintal da tia com mais um brinde:
Sabíamos que ela tinha estado prenhe e que tinha ido parir algures, às escondidas. Trouxe a cria para o quintal cerca de mês e meio depois, provavelmente por estar sem leite. Era uma fêmea espantadiça, que nunca tinha visto gente, e que eu só conseguia apanhar com o zoom:
Mas no domingo 21 consegui deitar-lhe a mão e já não a larguei. Com tanta concorrência à volta do prato, o bicho era só pele e osso.
Estava tão em baixo, que apesar do susto de ter sido agarrada quase adormeceu no meu colo.


Levei-a para casa e foi uma tourada daquelas com a minha Zarosky, como seria de esperar. O meu gato ficou ofendidíssimo, não queria nada comigo, passava pela casa com um andar furtivo e rasteirinho, como se andasse à caça, e parecia um tigre a rosnar. Tive de passar os dias que se seguiram a fechar portas para as manter isoladas, e quando trazia a pequenina para o pé de mim não a podia perder de vista, não fosse a outra fazê-la em filetes. Chamei-lhe Sarai (flor em hebraico) por ser uma coisinha tão frágil.
O veterinário deu-lhe soro e antibiótico, enquanto eu tratava de a atestar de paparoca especial para gatos desnutridos, e nos cinco dias que passou comigo já se notava uma grande diferença. Apesar de se assustar quando eu avançava para ela - em termos de proporções, era como se eu visse um braquiossauro a avançar para mim - deixava-se agarrar facilmente e a seguir fartava-se de brincar e de ronronar. São genes de Chica - os filhotes dela têm saído todos umas máquinas de ronronar como a mãe.
Uma bolinha peluda entre as almofadas.


E na passada sexta-feira a Sarai foi adoptada pelo veterinário que tratou dela. Ainda não sei que nome é que ele lhe pôs, nem como é que ela se deu com a outra gata que ele já tinha, mas vou tratar de passar por lá um dia destes e perguntar.


Entretanto a minha Zarosky ficou tão contente quando viu que a outra gata se tinha ido embora, que andou aí dois dias maluca de todo. Acho que só faltou desatar a cantar.
Aqui há uns anos tive a péssima ideia de trazer um periquito para casa. A seguir, para ele não ficar sozinho, tratei de lhe arranjar uma periquita. Mas a sacrista da periquita era bera como o raio que a parta e dava bicadas no desgraçado do periquito. Como eu não suportava a ideia de ter os bichos presos, deixava-lhes a porta da gaiola aberta e eles andavam à solta dentro de casa (e em cima da minha cabeça, e a cagar por cima dos móveis, e a debicar as plantas, enfim, era uma alegria). Um dia deixei a gaiola no quintal durante um bocadinho para eles poderem apanhar ar. A porta estava fechada (evidentemente...), coisa a que a periquita já não estava habituada, e tanto se esforçou para sair que às tantas enfiou-se no comedouro, levantou a tampa e fugiu. Sem a sacrista que lhe dava bicadas, o periquito ficou tão contente que desatou a cantar, a fazer gracinhas, a andar de baloiço, enfim, foi nitidamente um alívio ver-se livre daquela chata. E eu, sem saber o que fazer com ele, dei-o a um criador de periquitos que o pôs a fazer muitos periquitinhos para o resto da vida.
Mas vem isto a propósito da alegria da Zarosky quando a Sarai se foi embora. Se fosse periquito, cantava. Como é um gato, tratou de me fazer esperas nas esquinas do corredor, de jogar à apanhada e de dar pulos por cima dos móveis com uns rrrrnhaus trinados e tudo. Escuso de ter veleidades; é ela e eu e mais ninguém.


E agora podia pôr aqui umas flores e tal, mas 'tou cansada e isto já está muito comprido. Fica para a próxima.

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