19.10.08

Diário do Oeste - 25

Ermita altamente preguiçoso durante a semana, daquelas em que só se trabalha porque há prazos a cumprir, caso contrário era ficar de papo para o ar o dia todo.
Ou não. Porque há assuntos urgentes para acudir, como a doença súbita da Yara (a gata da tia), uma infecção que teve de ser tratada rapidamente.
Depois de uma série de injecções, habemus felix; ela já está bastante mais arrebitadinha e agora vai continuar o tratamento com umas pastilhas durante os próximos dias. A Yara ao meu colo, numa photo desta tarde - e eu não me estou a esconder atrás do gato, o meu progenitor é que carregou no coisinho quando ela meteu a cabeça à frente.


A semana foi também preenchida por diversas sessões de pintura na minha sala. Isto porque o ucraniano que eu contratei, um moço simpático que leva baratinho, tinha tanto que fazer que só podia vir cá dar umas pinceladas ao fim da tarde. Como já o conheço e já o vi dar cabo da bela lantana branca da minha tia, tratei logo de pôr a Farfalhuda na varanda, para a deixar a salvo dos pingos de tinta e dos esbarranços acidentais. Mas convém talvez explicar que a Farfalhuda é a minha begónia de estimação:
Uma matulona, como podem ver. Mas então deixei o moço sozinho durante uns minutos enquanto ele mudava de camisa e preparava o material e quando volto à sala vejo a porta da varanda aberta e "AHHRRRGH...!" - a camisa dele pendurada em cima da Farfalhuda!*~ Não havia nenhum sítio mais a jeito, caraças?! Pelo menos não voltou a repetir a gracinha nos fins de tarde que se seguiram.
Um pormenor das flores da Farfalhuda, cheias de pelinhos:
É claro que ao fim da tarde já está escurinho e não é exactamente a altura ideal para pintar, mas foi o que se arranjou. Felizmente ele pôde aparecer cá ontem às onze da manhã para acabar o trabalho à luz do dia e emendar os bonecos que tinham ficado na parede.
"Aqui no canto eu passo com rolhinha e fica bom", dizia-me ele no seu português altamente arrevesado - o moço já cá está há uns anos e é casado com uma portuguesa, mas está visto que o forte dele não são as línguas. E eu fiquei a pensar no que seria a "rolhinha". Será que ele ia pintar os cantinhos com uma rolha? Quando eu era miúda e não havia a loja do chinês a vender lápis dos olhos a um eurico, os putos pintavam os bigodes do Carnaval com uma rolha queimada. Mas é evidente que ele não ia pintar bigodes na minha parede. Que raio seria a rolhinha? Percebi quando vi um rolo pequenino dentro do balde. Afinal a "rolhinha" era o "rolinho", por oposição ao outro, o rolo grande com que ele estava a pintar a parede.
Entretanto fui acudir ao gato da tia e deixei o ucraniano todo entretido a mudar as tomadas da sala, que já estavam todas meio partidas. Uma delas tinha dois buracos: um de tomada e outro para o cabo da antena da televisão (que nunca funcionou). Antes de sair, avisei o moço que deixasse aquela tomada como estava porque eu não tinha comprado uma tampinha para tapar o buraco da antena. Confiei que ele me tinha entendido e saí. E quando voltei, foi isto que eu encontrei na parede:
"Esta não lhiga. Por isso estar ao alto. Para não fazer confusão."
...Ok, não há espiga, amanhã compro uma tampinha e trato disto.
Balbúrdia na cesta:
Os filhotes da Riscadinha fizeram hoje um mês e já estão todos espertinhos, curiosos e irrequietos, e a desgraçada vê-se à nora com eles.
E é que não param quietos, hem?!


Já cansada de os aturar, a Riscadinha resolveu sair da alcofa e ir fazer uma sesta dentro de um vaso, quase a cair dali abaixo, mas pronto, foi o sítio que lhe pareceu mais convidativo:
Ahhh... finalmente um bocadinho de sossego.

A única fêmea diferente dos outros, a única que não mostra ser arraçada de siamês, é também a mais afoita. Está naquela fase em que não tem medo de nada, vai direita aos gatos que não conhece, faz explorações por trás dos móveis, anda atrás da minha tia para todo o lado e sobe-lhe pelas calças acima. Estas photos foram tiradas esta tarde, quando ela viu o meu pai lá em casa e veio logo atrás dele.
Qu'é isto? Cheiras a quê? Come-se?

Em explorações - onde é que esta barriga irá dar?
Olá bicho grande!
No terreno em frente, o tal que dá couves, agora há uma data de crisântemos, a minha flor preferida. É claro que quando eu digo isto a malta comenta logo "ah pois, como é a flor dos mortos, e tal" e eu mando-os dar uma grande volta porque a pobre da florinha não tem culpa de ser das poucas que nascem nesta altura e que toda a gente se atire a ela para pôr no cemitério no dia dos mortos. Para os chineses, que são cá dos meus e também adoram crisântemos (aquelas flores altamente rebuscadas nas pinturas e nos tecidos dos quimonos são crisântemos), é o símbolo da fidelidade (e aí já temos tudo estragado, que eu sempre disse que quem quer fidelidade que arranje um cão). No Japão é a flor nacional, porque lhes lembra um sol (e aquilo é o país do sol nascente, topam?) e o nome dela em grego quer dizer "flor dourada", porque o amarelo é a cor original, antes das outras mutações todas de feitios e de cores. Mas pronto. Isto foi só para destacar que os crisântemos são umas belezas que não têm nada a ver com os mortos - a não ser que lhes sirvam de adubo, claro. Com um núcleo amarelo numa corola entre o branco e o rosa.


Em vermelho escuro.


Em amarelo, com mosca e tudo.


Uma molhada branca na beira do passeio.
Pormenor da molhada branca, que afinal atira um bocadinho para o amarelo.

Amarelos com núcleo laranja.

E mais um raminho da mesma planta.

Apesar do trabalho e do gato doente e do ucraniano do rolhinha, ainda houve tempo para ir a Torres fazer as compras da praxe (porque aqui na Terra dos Loureiros não se consegue arranjar uma série de coisas mais específicas, próprias para ermitas com gostos exigentes). E encontrei esta bela pintura abstracta no parque de estacionamento do Arena Shopping:
O trabalhinho de um artista que não tinha um sítio melhor onde limpar as mãos.


O Yuri esta tarde, à espera que eu lhe abrisse o portão - o muro tem pr'aí um metro de altura, mas nem sempre há vontade para dar pulos, sobretudo quando há um primata por perto com mãos para rodar puxadores.
Abre lá isso, vá.


Entretanto estamos na altura da caça e aos fins de semana é ver por aí os caçadores todos com o atrelado no carro e pelo menos um cão lá dentro. Este era daqueles vaidosos que gostam tanto de fotógrafos que arreganham logo os dentinhos para a câmara:
Assim que puder, também vou passar a ir à caça; logo que saírem as licenças para poder atirar aos caçadores.
Já há por aí vários caçadores a praticarem esse desporto (volta e meia lá vai um), mas depois dá chatice porque não têm a tal licença para dar tiros nos colegas.


E isto aqui é uma bicha-cadela lá no quintal da tia:
Tem umas belas tenazes e é por isso que ela está no chão em vez de estar na minha mão, como habitualmente; não sou uma menina enojada e melindrosa, mas também não sou parva - isto morde.
Uma coisinha foleirota que já quase não se vê nas paredes das casas de aldeia, mas que eu sempre gramei à brava: uma andorinha de barro.
E uma bela sineta num muro pedregoso com uma trepadeira que dá balões vermelhos. 'Tá aprovado.Se bem que eu cá dava uma polidela no sino para ficar amarelinho e brilhante e envernizava o suporte para dar uma cor acastanhada àquela madeira cinzenta e feiosa.
E se ainda não se deram conta, eu confesso: sou horrivelmente perfeccionista. Em tudo. Deve ser por isso que estou solteira...
E isto aqui é um esticador. Pelos vistos serve para segurar a parede, mas nunca percebi exactamente como. Já me explicaram mais do que uma vez, mas a verdade é que a mecânica disto não faz lá muito sentido. Ok, esta coisa puxa a parede de um lado ao outro, mas como é que aquela coisinha consegue manter a parede de pé? Mistérios... Mas um dia ainda tiro isto a limpo.


A Odete, que é uma rapariga com visão, encontrou uma ervinha a subir pelo muro acima e deixou-a ficar, a ver no que aquilo ia dar. Regada e adubada, ela foi crescendo, crescendo, e agora deu estas belas florinhas minúsculas nuns espigos com cerca de 15 centímetros. Ninguém sabe o que seja, mas como podem ver é uma plantinha giríssima:

Mais uma rosa para a colecção:

E uma photo tirada por baixo de um arbusto roxo, igual ao que a Paulinha contabilista tem à porta do escritório:
Flores de alecrim com uns grandes bigodes curvos:

E uma coisa que dá ervilhas! A photo saiu um bocado ranhosa, mas pelo menos dá para ver as vagens:

E agora para variar eu podia falar em qualquer coisa séria, como a crise financeira que está a deixar toda a gente com os cabelos em pé, mas prefiro mostrar-lhes o estado em já está o dólar americano:

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