Ermita um tanto preguiçoso e algo empanado, entupidinho de ilvicos e vitamina C, sem pachorra nem grandes temas para blogar, apesar do grande intervalo sem pôr cá nada.
Começo por umas photos que tirei há coisa de minutos, quando vi uma osguinha minúscula a subir pela parede do escritório e é claro que a fui lá agarrar. E aqui está ela a posar para a posteridade nas costas da minha mão:
Uma coisinha linda toda às pintinhas, com ventosas nos dedos.
Aqui dá para ver o pormenor do olho, de pupila vertical:
E mais um plano, agora de costas. Ah, e para os que estão aí a fazer caretas, faço notar que a pele humana das costas da minha mão, cheia de veias salientes a topar-se à transparência, é que pode meter nojo.
E já que estamos em maré de bicharada, aqui vai mais uma grilinha:Entrou-me pela janela quando eu andava a pintar, provavelmente por ser a única janela aberta e iluminada num prédio às escuras, facto assinalável porque eu estou num terceiro andar e os grilos não costumam fazer grandes voos; basicamente dão um pulinho e depois planam um bocado com as asas a vibrar, num voo um tanto atabalhoado que nunca os leva muito longe. Ou assim pensava eu. Porque esta entrou-me pelo quarto adentro que nem um foguete e pum!, enfiou uma bruta marrada contra a parede.
E como a tinta ainda estava fresca, a pobre da grilinha ficou com a cara pintada de branco, como podem ver aqui.
O meu amigo Antero ao telefone:
— Pois, eu já andava p’ra te ligar há mais tempo, mas depois pensava “a Isa vai-me dar nas orelhas porque eu nunca vou ao blog dela”, e não me conseguia lembrar do nome, só me vinha à ideia que era “o troglodita”…
— Ermita, qual troglodita!
— Sim, depois lembrei-me, não é o troglodita, é o ermita. “O ermita solitário”, não é?
— Arrrghh!!!
Mas a ideia do troglodita até não é nada má... Para um blog dedicado à cacetada, por exemplo.
Aqui há uns anos, quando eu trabalhava numa biblioteca, abria a janela de manhã e via na parede em frente, escrito em letras garrafais, um grafitti a dizer "orgulho branco". O raças do grafitti era irritante, mas a única coisa a fazer era não olhar para ele. Até que alguém com um óptimo sentido de oportunidade se foi à inscrição e lhe acrescentou um G, na mesma cor e com o mesmo tipo de letra. E assim, um belo dia eu abro a janela e vejo lá escrito "gorgulho branco". Acho que passei o resto da manhã com acessos de riso.
Na fotografia que aqui vêem, o motivo foi bem mais brejeiro do que nobre, mas o sentido de oportunidade é semelhante. Encontrei esta beleza ao pé dos correios aqui da Terra dos Loureiros. Só lá ao pé é que vi que não é pintado, é um bocadinho de fita adesiva branca a transformar o L num C. E agora podia dizer umas ordinarices a propósito da utilidade deste caixote e mesmo sobre o buraquinho tão apropriado que o contentor tem, mas acho melhor não me meter por aí.
Começou o Outono e o ventinho, sempre atento ao calendário, desatou a soprar pelas minhas janelas adentro. Uma das graças de ter instalado o meu ermitério no cimo de uma torre é exactamente o de levar com o vento à força toda. É um facto, gosto de ventanias. Tanto que já tenho a fita para calafetar as janelas há mais de um ano e ainda não me decidi a colá-la. É que depois lá se vão os uivos do vento nas frinchas, que dão à casa esta banda sonora de castelo fantasma nas noites de vento, e eu gosto à brava de adormecer a ouvir aquele embalo. E aqui temos o meu gato todo intelectual, a meditar em cima dos canhenhos.
Não sei se já deram por isso, mas as rolas são umas brutinhas sem maneiras nenhumas. Normalmente comem sempre com as patas dentro do prato e a beber água fazem o mesmo, sem se importarem nada de molhar a barriga (e de irem largando alguns presentes ao mesmo tempo, claro).
Tive o cuidado de escolher pratos de vaso em barro exactamente por terem um rebordo grosso, bom para a passarada se empoleirar, e os pardais perceberam logo a ideia. Às vezes também saltam para dentro do prato, sobretudo quando já está meio vazio, mas o normal é comerem da borda. Elas não, é logo à grande e à bruta, tipo "isto aqui é tudo meu". São no entanto bastante mais sociáveis. Não fogem quando eu apareço, observam-me um bocadinho e a seguir voltam a concentrar-se na paparoca. Os pardais ficam também mais afoitos quando elas estão na minha varanda. Normalmente são uns espantadiços que fogem com um "tchiiiip!" histérico assim que me vêem, mas enquanto as rolas não saem dali eles também se vão deixando estar, um tanto à parte, altamente desconfiados, mas pelo menos não fogem. Aparentemente sentem-se mais seguros. Não sei se acham que eu me vou atirar ao pássaro maior se estiver com fome (realmente um passarinho do tamanho deles deve caber na cova de um dente, aquilo só como aperitivo), ou se para eles as rolas serão um passarão possante, cheio de caparro, que os vai defender em caso de ataque (esperem por essa...). De qualquer maneira, há ali uma hierarquia qualquer. Quando vem um grupo de pardais, andam à bicada uns aos outros, em grandes refilices vocálicas e avanços espanejados, todos à bulha pelo direito de comer do prato, mas quando há uma ou duas rolas os gajos portam-se lindamente e comem todos sossegados, sem jogar à bicada. Talvez se lembrem que é melhor não dar ideias ao matulão...
E agora uma pequena colecção de rebentos:
O filhote da Tiquitas.
Os filhotes da Riscadinha.
O filhote da Sílvia.
O filhote da Tânia.
Um dia eu ainda arranjo um coiso destes.
E mais alguns rebentos vegetais, como não podia deixar de ser:
O hibisco quase laranja do progenitor.
Uma flor de um hibisco enorme, que conseguiu passar ao estatuto de arbusto farfalhudo, coisa rara por estas bandas em que o pessoal parece que não pode ver uma planta matulona, que fica logo cheio de cócegas na tesoura e até se põe a inventar motivos parvos para a poder derrotar, tipo "gasta a terra" (mesmo quando é suposto ser um jardim) ou "dá cabo dos muros" (mas dar uma caiadela no dito ou tapar-lhe os buracos, 'tá quieto).
A relação com as árvores (e com as plantas em geral, mas sobretudo com as árvores) é aparentemente bastante diferente entre o pessoal das várias zonas. Aqui no Oeste há normalmente uma preocupação com a utilidade da coisa. As flores não são úteis; o que interessa são as nabiças e as batatas. E esta utilidade tem de ser exclusiva para o dono. Aqui há uns anos, na aldeola onde agora mora a minha tia, contou-me uma vizinha que os sacristas dos putos costumavam roubar peras do quintal dela, mas que agora tinha arranjado um veneno bestial, que deixava os malandros todos com uma caganeira medonha. A chatice é que ela também não podia comer as peras, mas paciência, porque pelo menos lixava os larápios. Porra de lógica, não? Mas há mais. Isto é típico cá da região. O meu pai conta que um tio meu, um saloio da banda saloia da família por afinidade (que já não tem nada a ver com o meu lado, hem?!) tinha uma bela figueira no quintal. Um dia foi-se à figueira e cortou-a rente. O motivo era o mesmo da outra: como os putos lhe roubavam figos, o gajo decidiu que não era para ele mas também não havia de ser para os outros. E a pobre da árvore é que pagou as favas à conta da sovinice do dono. O meu avô, o pai do meu pai, um beirão que não tem nada a ver com saloios, tinha exactamente a atitude oposta. Contavam-lhe que os putos lhe assaltavam as árvores do pomar e ele respondia que isso não tinha importância porque o melhor ficava sempre para o dono (que tinha uma escada para ir lá acima buscar o grosso da fruta, ora pois). Lembro-me de um documentário onde um árabe (não seria forçosamente da Arábia, mas já não sei em que terra se passava aquilo) estava a apreciar um sítio com árvores, porque era bonito e fresquinho e tinha sombras e ai que bem que se está aqui. O fulano do documentário perguntava-lhe então porque é que ele não plantava árvores no pátio dele. E o gajo respondeu que as árvores demoravam tanto a crescer que a sombra já não ia ser para ele, mas sim para os filhos dele. Portanto, eles que as plantassem (e contra isto batatas...).
Ora cá temos então a origem da lógica saloia. Isto deve estar-lhes nos genes. Os mouros vieram por aí acima com ideias destas e os descendentes deles ainda não tiveram melhoras nenhumas.
E aqui temos outro exemplar todo ramalhudo que escapou à furia assassina da tesourada, um belo arbusto cheio de florinhas roxas em frente ao escritório da Paulinha contabilista, que me trata do IVA e do IRS
que por sinal ainda não houve meio de chegar, oh rai's parta. Pelos vistos fiquei para o fim. Sorte malvada.
Segue-se agora uma rosa lilás, e pois, garanto que é mesmo desta cor, não há cá photoshop.
A única coisa que eu fiz foi cortar as margens da fotografia porque as pétalas de fora estavam já um bocado estragadas. Presumo que esta variedade seja rara de encontrar exactamente por ser mais frágil.
E aqui temos uma rosa amarela bastante mais rústica, daquelas que se abrem tanto que acabam por se escangalhar.
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